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Retorno dos eventos físicos impulsionam exportações de calçados

Redação Portal de Franca
23/04/2022 10:31

Depois de um período sem participações em eventos físicos, o setor calçadista inicia 2022 comemorando a retomada das feiras de calçados internacionais, que ficaram em stand by em função da pandemia de Covid-19.

A presença brasileira em feiras físicas e missões comerciais é parte fundamental da estratégia de internacionalização do setor, que tem no Brazilian Footwear, programa desenvolvido pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), o desenvolvimento de ações e projetos com o objetivo de multiplicar o calçado “made in Brasil” mundo afora.

O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, destaca que as exportações do setor, que foram impulsionadas a partir do arrefecimento da pandemia de Covid-19 na segunda metade do ano passado, têm sido o motor do crescimento da atividade.

Somente no primeiro trimestre, os calçadistas brasileiros somaram o embarque de 40,74 milhões de pares, que geraram US$ 320,65 milhões, altas de 27,3% em volume e de 65,8% em receita no comparativo com o mesmo período do ano passado.

“As exportações apresentaram uma dinâmica de recuperação bastante superior ao crescimento da demanda interna, sendo que ainda no ano passado recuperamos os embarques registrados na pré-pandemia, com mais de 123 milhões de pares embarcados”, comenta. Segundo ele, a expectativa é de confirmar o crescimento até o final do ano. “A expectativa é encerrar 2022 com 9% de incremento médio nos embarques em relação a 2021 (em volume)”, diz.

Além da maior demanda internacional, especialmente dos Estados Unidos, Ferreira atribui o otimismo nas exportações à retomada das feiras e missões comerciais físicas.

Nas primeiras mostras do ano – Expo Riva Schuh (Itália), Playtime (EUA), Magic Las Vegas (EUA), Atlanta Shoe Market (EUA), Magic NY (EUA) e Micam (Itália) – foram gerados mais de US$ 38 milhões em negócios. “As feiras internacionais têm um papel fundamental na retomada. As expectativas são as melhores possíveis”, conclui o executivo. Até o final do ano, o Brazilian Footwear prevê a participação em mais 10 feiras internacionais na Itália e nos Estados Unidos, além de missões comerciais na Colômbia.

Arezzo: “Vamos na feira para encontrar nossos clientes”

Exportando cerca de 12% da sua produção diária de mais de 85 mil pares de calçados, a Arezzo&Co, de Campo Bom/RS, é um dos principais players calçadistas do Brasil.

Destacando a importância do retorno aos eventos físicos internacionais para potencializar ainda mais as exportações, o gerente de exportações do grupo, Luis Germann, conta que os embarques cresceram 74% em 2021, em relação a 2020, e que seguem em crescimento nos primeiros meses do ano. “Em 2022, seguimos em crescimento, com destaque para o mercado norte-americano, onde temos um significativo volume de exportações da marca Schutz – uma das 18 marcas do grupo”, conta.

Segundo Germann, já em 2021, com o arrefecimento da Covid-19, a empresa esteve presente em feiras físicas nos Estados Unidos e na Itália.

A retomada definitiva da participação com equipe própria em 2022, segundo o gerente, foi motivo de comemoração na empresa. “As feiras físicas são muito relevantes e fazem parte da estratégia do grupo, especialmente para a prospecção de novos clientes internacionais. Em complemento aos eventos on-line, são eventos que permitem uma apresentação mais eficaz das nossas marcas, além de proporcionar um relacionamento mais próximo e pessoal com os compradores. Nós vamos para as feiras para encantar nossos clientes”, diz. Na Micam, feira italiana realizada no início de março, a empresa somou R$ 4 milhões em negócios.

Germann conta que, embora a empresa adote estratégias omnichannel para a expansão internacional, as feiras físicas são locais ideais para prospecção de compradores que ainda não possuem um relacionamento com o grupo.

“Além disso, existe uma maior efetividade nos negócios quando os encontros são presenciais. Para a manutenção, utilizamos ferramentas digitais, onde evoluímos muito, mas para a prospecção as feiras físicas ainda são um grande diferencial para a estratégia de exportações”, frisa o gerente, ressaltando o apoio do programa Brazilian Footwear nessas ações.


Adrun: “Nosso setor gostar de sentir o produto”

Com uma produção de quatro mil pares diários, sendo 40% deles exportados para mais de 50 países, a Adrun, de Birigui/ SP, aumentou o percentual dos calçados embarcados, ano a ano, desde que iniciou o processo de internacionalização, em 2015. A parceria com a Abicalçados, por meio do Brazilian Footwear, foi fundamental para o processo.

O gerente de exportações da empresa, Valdomiro Pinese Júnior, conta que os eventos físicos são fundamentais para a estratégia de exportação da Adrun.

“A participação nas mostras facilita a manutenção e prospecção de clientes. Nós não teríamos como realizar todas as viagens necessárias para visitar todos os nossos compradores. Nos eventos, esses encontros se concentram”, diz. Para a prospecção, ou mesmo lançamento de novas coleções, Júnior conta que estar presente no evento físico auxilia a realização dos negócios.

“O nosso cliente gosta de sentir o produto, gosta de pegar, experimentar. Só o evento físico pode proporcionar isso”, acrescenta o gerente, ressaltando que a empresa está trabalhando para somar mais uma feira internacional ao portfólio de participações – que já conta com Expo Riva Schuh e Micam: a feira estadunidense Atlanta Shoe Market.

Sobre a mais recente participação internacional, na Micam, Júnior ressalta que a retomada ainda não ocorreu completamente, pois ainda persistem algumas restrições que acabaram impactando na visitação.

“Para as próximas feiras, acreditamos em uma melhora na situação. Já estamos encaminhando o nosso retorno à Micam (setembro) e também para a Expo Riva Schuh (junho)”, adianta. Para 2022, com a normalização dos fluxos internacionais, a empresa espera aumentar a fatia exportada para 45% a 55%.

“Alguns entraves persistem, como encarecimento do frete e custos mais altos com matéria-prima, mas a empresa vem atuando para diminuir os efeitos. Neste ano, compramos uma máquina para fabricação de EVA visando a redução de custos. Acredito que, com uma maior estabilidade no mercado internacional, possamos seguir crescendo em 2022”, projeta o gerente.

Bottero: relacionamento mais próximo

A calçadista Bottero, de Parobé/RS, é outro importante player do setor que tem como parte da estratégia de expansão internacional a participação em feiras.

“Sempre fizemos a manutenção e prospecção dos nossos clientes internacionais nas feiras físicas. Tivemos um tempo sem mostras, em função da pandemia de Covid-19. Estávamos realizando esse trabalho de forma virtual, mas sem a mesma força. Desde o ano passado, por meio de representantes, estivemos nas feiras da Itália – Expo Riva Schuh e Micam. O movimento foi menor, não tínhamos presença de equipe própria, mas os negócios aconteceram”, conta a gerente de exportações da empresa, Paulina Klein.

A partir da retomada presencial, Paulina ressalta que houve um incremento nas negociações, em especial para países da Europa e para os Estados Unidos. “As exportações da Bottero, que absorvem uma fatia de 15% da nossa produção (de 15 mil pares diários), vêm sendo fundamentais para a recuperação dos negócios pós-pandemia, em especial no mercado internacional”, avalia.

Segundo Paulina, nas duas primeiras feiras do ano, Expo Riva Schuh e Micam, ambas na Itália, a empresa logrou bons resultados, embora com uma visitação ainda menor do que em anos pré-pandemia.

“Estamos saindo de uma pandemia e agora temos a influência da guerra Ucrânia e Rússia, que acaba inibindo as visitações, principalmente de clientes do Leste Europeu. Mas acreditamos em uma recuperação dessas feiras ainda em 2022”, diz.

Segundo ela, nas feiras italianas, além de abrirem clientes importantes, caso da Bielorrúsia, foram proporcionados encontros com compradores que não apareciam há dois anos. “A feira física é fundamental, nos permite uma maior proximidade, estreita o relacionamento e fideliza os compradores”, destaca, ressaltando que o Brazilian Footwear é um apoio relevante para as participações. “O apoio não se dá somente no aspecto financeiro, que é importante, mas também com todo o suporte necessário”, conclui a gerente.

Anatomic Gel: a engrenagem voltou a girar

Outra empresa otimista com a retomada nas exportações, embalada pelo aumento dos embarques, especialmente para a Europa, é a Anatomic Gel, de Franca/SP. Com uma produção de dois mil pares diários, sendo 25% embarcados para o mercado internacional, com a maior parte dos clientes na Europa, países da América Latina, Estados Unidos e Ásia, a Anatomic Gel tem presença importante no exterior.

O diretor da Anatomic Limited – empresa parceira que faz a exportação da Anatomic Gel –, João Conrado, destaca que os resultados das exportações em 2021 já haviam superado os níveis pré-pandemia, e que agora, a partir do incremento da demanda internacional e dos eventos físicos, a performance deve melhorar ainda mais.

“Recuperamos os níveis da pré-pandemia ainda no segundo semestre do ano passado. O ano começa com perspectivas bastante positivas” diz, acrescentando que a empresa criou um depósito com alfândega seca no Reino Unido e um escritório de vendas na Irlanda para dirimir as barreiras causadas pelo Brexit (saída do Reino Unido, país sede do escritório da Anatomic Limited, da União Europeia). “Também devem impactar os negócios os altos custos no frete e a demora das entregas provenientes da Ásia, que tem feito com que clientes dos Estados Unidos, Europa e América Latina busquem calçados em fornecedores alternativos aos asiáticos. Neste processo, nossa indústria deve ficar mais competitiva”, avalia.

A mais recente feira com participação da Anatomic Gel foi a Micam, na Itália. Apesar de uma movimentação menor, Conrado conta que negócios aconteceram, com a visitação de mais de 100 relevantes players de 27 países. “A Micam é muito importante para a estratégia da Anatomic Gel. A feira nos surpreendeu positivamente, pois apesar do tamanho reduzido em relação às edições anteriores, teve uma grande presença de compradores internacionais”, comenta. Segundo ele, o retorno aos eventos presenciais será fundamental para a recuperação das exportações brasileiras. “A engrenagem voltou a girar”, comemora.

Braço internacional da Abicalçados, mantido com o apoio da ApexBrasil, o Brazilian Footwear tem papel fundamental para a internacionalização das marcas calçadistas brasileiras. Para o próximo biênio, o convênio irá investir mais de R$ 35 milhões em ações de promoção comercial e de imagem para calçadistas brasileiras no exterior.  

foto: reprodução